Existe uma linha tênue entre a quebrada e o restante da cidade. Os dois lados se misturam e são dependentes um do outro, por meios positivos ou negativos. Uma alusão ao primeiro filme da humanidade, dos Irmãos Lumiére, a chegada do trem na estação Grajaú no ápice do horário de pico, o lotado e o vazio em questão de minutos.
Por que jovens periféricos vivem menos? 23 anos a menos para ser mais exata. Por que temos pouco acesso a cultura? Por que temos o mínimo para se viver? Essas perguntas permeiam o ser de jovens que, ao sair do local em que convivem, descobrem uma busca incessante por sonhos que parecem impossíveis. O que querem? Vencer a luta diária e conquistar uma oportunidade. Nessa busca de um extremo ao outro de São Paulo, também querem perceber que existe amor nessa cidade caótica e cinza.
 Agora podemos comentar a dificuldade de acesso a cultura em locais que, muitas vezes, não há o básico para sobreviver. Quando chove, só o povo periférico sabe o que pode ou não perder. Como proceder? Os jovens preferem os centros culturais, mas o que veem são igrejas de múltiplas denominações em cada esquina. Aqui os conflitos de espaços se confundem, pois na mesma esquina que tem cultos religiosos diários, o pancadão acontece aos finais de semana. Qual é a brisa?
 Nesse espaço limitado, as crianças correm entre becos e vielas, o céu pingado de pipas coloridas. Na praça, o mato crescente sem parar. No campo de terra, a trave é improvisada, mas todo domingo os garotos e garotas se unem para jogar futebol. Na feira semanal, a banca do “rolo” de objetos usados. Concordemos que a liberdade é conquistada por meio da cultura, parece que somos testados a todo momento. Vai continuar ou vai desistir? A criança que deixou de ser criança, para cuidar do irmão mais novo, porque os pais precisavam trabalhar, com certeza não terá as mesmas oportunidades da criança que viveu sua infância integralmente. Que mundo teremos então?